quinta-feira, outubro 25, 2007

CLARA NUNES

Clara Francisca Nunes Gonçalves Pinheiro, conhecida como Clara Nunes, (Cedro da Cachoeira, 12 de agosto de 1943 — Minas Gerais, 2 de abril de 1983) foi uma cantora brasileira, considerada uma das maiores intérpretes de samba do país.

Clara Nunes nasceu no interior de Minas Gerais no distrito de Cedro da Cachoeira, à época pertencente ao município de Paraopeba e depois emancipado com o nome de Caetanópolis.
Trabalhava numa fábrica quando participou do concurso A Voz do Ouro ABC, vencendo a etapa mineira e terceiro lugar na final, em São Paulo, 1960. A partir daí, conseguiu emprego numa rádio belo-horizontina, a Rádio Inconfidência, onde teve um programa exclusivo na TV Itacolomi durante um ano e meio. Além disso, nesta época se apresentava em boates e casas noturnas de espetáculos da cidade onde viveu até 1964, quando mudou-se para o Rio de Janeiro.
O primeiro LP gravado, A voz adorável de Clara Nunes (1966), apresentou um repertório de conhecidos boleros e sambas-canções, mas foi um fracasso comercial. Só começou a cantar samba a partir do segundo, Você passa eu acho graça, em 1968, cuja faixa-título, de Ataulfo Alves, foi o primeiro grande sucesso radiofônico, firmando-se como cantora desse gênero anos depois.
O primeiro espetáculo realizado foi Sabiá sabiô, paralelamente à gravação do álbum Clara Clarice Clara, que trouxe canções de compositores de escola de samba e MPB, como Caetano Veloso e Dorival Caymmi, dedicando-se posteriormente ao partido alto com As forças da Natureza (1977).
Com o LP Alvorecer de 1974 obteve grande sucesso com a canção Conto de areia (Romildo/ Toninho). Bateu índices recordes de vendagem, chegando a quinhentas mil cópias - feito nunca realizado anteriormente por uma mulher no Brasil - e rompendo com o tabu de que cantora não vendia discos e estimulou outras gravadoras a investir em sambistas mulheres (formou também o trio ABC do samba - Alcione, Beth Carvalho e a própria Clara, assim como deu visibilidade a sambistas mais veteranas, casos de Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Clementina de Jesus). Neste mesmo ano lançou o disco Brasileiro: profissão esperança, ao lado do ator Paulo Gracindo.
Os discos que se seguiram a transformaram na maior intérprete de samba do Brasil. O disco seguinte Claridade (1975) vendeu ainda mais do que o anterior.
Alguns anos depois, pode-se observar um maior ecletismo no repertório, que incluiu baiões, baladas e até valsinhas, confirmando assim a grande versatilidade de intérprete, além das canções calcadas no tema do umbanda e candomblé, a religião, e por caractertísticas dela e por suas indumentárias características: vestidos longos brancos, colares e miçangas, de origem africana. Canções que exaltam a religiosidade são: A deusa dos orixás, Guerreira, Filhos de Gandhi, e outras.
Na voz de Clara Nunes foram consagradas as seguintes interpretações: Você passa eu acho graça, Conto de areia, Canto das três raças, Ê baiana, Tristeza pé no chão, Nação, Na linha do mar, Morena de Angola, O mar serenou, Guerreira, Ilu Ayê - Terra da Vida, Coração leviano, As forças da natureza, A deusa dos orixás, Macunaíma, Alvorada, Menino Deus, Feira de Mangaio, Portela na Avenida, Serrinha, Misticismo da África ao Brasil, Lama, Sem companhia, Deixa clarear, Derramando lágrimas, dentre outras.
O álbum mais vendido foi Brasil Mestiço (1980) que ultrapasssou a marca de um milhão de cópias vendidas. Clara tem no acervo mais de dezoito discos de ouro e é lembrada com muito carinho pelos brasileiros. Morreu na madrugada de 2 de abril de 1983, prematuramente, aos 40 anos, depois de vinte e oito dias em coma: no princípio de março, ela se internou na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, onde se submeteu a uma simples operação de varizes na perna esquerda, por motivo de fortes dores que sentia ao dançar.
Sofreu parada cardíaca e paralisação da atividade cerebral, por falta de oxigenação, vítima de um choque anafilático ou de um erro médico.
O corpo foi velado na quadra da Escola de Samba Portela - uma de suas paixões - e sepultado no Cemitério São João Batista, em meio a muita emoção dos fãs, cantores e parentes, numa tristeza coletiva poucas vezes vista no Brasil.
A cantora Alcione lhe dedicou um disco, como grandes amigas que eram, gravando músicas de seu repertório. O álbum, lançado em 1999, foi batizado de Claridade. Foi casada com o poeta e letrista Paulo César Pinheiro a partir de 1975, de quem gravou diversas composições. Paulo César hoje é casado com a cavaquinista Luciana Rabello.